terça-feira, 31 de maio de 2011

O Jardim


O Jardim

Sabe na aquela rua, que no fim dela tem uma praça?
Pois é, passei muito dos meus dias indo ali só para ver um pequeno jardim de rosas vermelhas que uma senhorinha, assim bem velhinha cuidava. Todos os dias essa senhorinha se dedicava a cuidar desse cantinho da praça, mantendo sempre as rosas ali bem vivas.
Foi isso que me chamou atenção, sou um amante das rosas e principalmente rosas vermelhas como aquelas, rosas que se destacavam perante a  qualquer outra flor que  na praça existisse, a senhora que as mantinha ali sempre dessa forma dizia que não fazia nada de mais, apenas conversava com elas e jogava com seu regador um pouco de água. Eu encantado que estava por essas rosas resolvi que qualquer dia que eu passasse por lá iria ir até as rosas e conversar um pouco, pois  a senhorinha falava que era tão bom que me despertou um interesse.
Só que todas as vezes que ia passar por lá tinha alguém perto ou a própria senhorinha, ai me sentia meio incomodado e acaba deixando para outro dia. Mesmo tendo essa enorme vontade fica fantasiando.
Como seria?
O que iria sentir na hora que eu começasse a falar?
Se eu ia passar a imagem de ser alguém maluco por conversar com flores?
Se as rosas iriam gostar de me escutar?
E até mesmo se eu ia fazer bem para as rosas, pois seria uma pessoa diferente que estaria a conversar com elas?
 Milhões de duvidas ficavam na minha cabeça, mesmo assim continuava a imaginar, tinha noites que me pegava sonhando até com as rosas, aquele canto da praça só de rosas vermelhas eram de certa forma muito estimulantes. Cheguei até o ponto de apelidar aquele canto como “cantinho do meu sangue”, talvez pela semelhança da cor ou mesmo por ser um cantinho que me fazia bem.
Mais foi em um dia que tudo estava dando errado, acordei atrasado para ir trabalhar, deixei cair café na minha roupa, acabei perdendo o ônibus fretado que a empresa oferecia, tive que pegar ônibus público, cheguei todo amassado no serviço, com essa correria toda acabei esquecendo minha pasta com alguns relatórios que teria que usar na reunião, perdi até o apetite na hora do almoço, voltando para casa percebi que chovia de mais só que meu guarda chuva estava em casa dentro da pasta, o fretado que me levaria de volta para casa ficou preso no transito e eu com isso resolvi descer e ir andando já que não estava tão longe assim de casa e a chuva já tinha parado. Como resolvi ir andando fiz um caminho todo diferente, e ao caminhar ia prestando atenção em tudo, e junto refletindo sobre meu dia.
Nossa, e que dia!
Sem perceber acabei saindo na praça das rosas vermelhas, não pensei duas vezes fui caminhando na direção daquele canto tão misterioso e sempre observando se não havia ninguém a me observar. E só depois da certeza que não tinha ninguém lá cheguei ao meu tão esperado momento, o momento em que eu conversaria com as minhas rosas vermelhas. Mas não foi tudo assim como dizem “Um mar de rosas”, assim que me aproximei percebi algo de errado, algo novo que antes não existia lá. Na hora fiquei sem palavras não conseguia dizer nada e fiquei por minutos ali parado olhando e não acreditando no que via, parecia que o “cantinho do meu sangue” tivesse sido sabotado, pois no meio de tantas rosas vermelhas, hoje havia um girassol.
Eu não acreditava como no meio de tantas rosas pode nascer um girassol, como?
E o contraste?
Será que ninguém se importou com isso antes de plantar essa flor?
Observando de longe a velhinha viu meu desespero e sem ser notada se aproximou de mim e disse:
- Pois é meu filho, eu te dei as dicas, falei para você o quanto era bom conversar com elas mais você sempre falava que passaria aqui e nunca vinha. Esse pequeno jardim aqui é mágico e eu estava à procura de alguém para me substituir, pois já estou com uma idade muito avançada e não tenho mais condições de manter esse jardim, e por isso tentei trazer você aqui, eu sabia que você não ia deixar essas rosas morrerem junto comigo e ia manter essa cor vermelha, iria fazer bem para você e para elas.
Mas como não podia forçar você a vir!
Outra pessoa, com outro gosto de flores apareceu na vida das rosas.
Agora você terá que agüentar ver sua rosa vermelha junto com um girassol amarelo.


Renato Alexandre

2 comentários:

  1. Lindo texto , como sempre... Parabéns...

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  2. "...dizem até oq vc as vezes nao quer dizer." (Acho que se aplica mais a você do que a mim) Texto lindo, como todos que vc escreve aliás...

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